Em recente evento na Sicília, com charme e estilo italiano,
a Campagnolo apresentou suas mais recentes armas para o disputado mercado de
grupos eletrônicos, lançando o sistema EPS (Eletronic Power Shift) nas versões
Record e Super Record.
A japonesa Shimano, quando anunciou seu Di2 no passado,
ditou um patamar de excelência devido à precisão do seu grupo, que deve ser
definido simplesmente com o adjetivo de “perfeito”.
Mas para entender em que tipo de posicionamento se encontra
a italiana Campagnolo, devemos voltar para os anos 70, quando o futuro da
empresa foi definido pelas mãos do seu fundador Tullio Campagnolo. Como
exemplo, certa vez ele foi convidado pelo consultor americano Jay Townley, que
trabalhava para a Schwinn, para produzir componentes focados no mercado de
massas. Tullio pegou alguns dos protótipos nas mãos, franziu a testa e disse:
“Feio, muito, muito feio!”, e nunca produziu nada com este foco.
Talvez ele não tenha imaginado, mas exatamente naquele
momento el
e definia a base de uma das marcas mais adoradas e com
capacidade de fidelização do mercado de ciclismo. Ao mostrar que a Campagnolo
nunca quis o mercado popular, gerou essa “aura” sobre ela. A recusa em
comprometer a qualidade e a beleza mudou a Campagnolo de uma simples empresa em
busca de lucro para uma causa, que alguns chamam até de culto ao antigo símbolo
do velho mundo artesanal, formado em bases sólidas de conhecimento, sempre
sobre as asas da família na cidade de Vicenza, ao norte da Itália, em uma
fábrica formada por artesãos.
Hoje a diferença entre as antigas competidoras não apresenta
mais os níveis equivalentes do passado: a Shimano faturou US$ 2,1 bilhões no ano
passado e a Campagnolo, US$ 150 milhões, algo similar como Toyota versus
Ferrari. Quando analisamos os títulos no circuito profissional de ciclismo
europeu, a similaridade com a supremacia dos pequenos Davis contra os gigantes
Golias também busca equiparação no mundo dos automóveis ou da F-1 (vide o
número de vitórias da Ferrari contra outras marcas), entre os anos de 1968 e
1998, ou seja, em 30 anos a Campagnolo ganhou 27 Tour de France e 26 Giro
d’Italia com nomes como Eddy Merckx, Bernard Hinault, Miguel Indurain e Marco
Pantani, sem citar os óbvios Gino Bartali e Fausto Coppi, décadas antes.
Claramente ela não mostra interesse em repassar sua
tecnologia para parceiros orientais, devido ao problema exemplificado por
Valentino Campagnolo (filho de Tullio e atual CEO) e vivido pela Schwinn com
uma então desconhecida fábrica de bicicletas chinesa chamada Manufacturing
Giant. Na época, a Schwinn, líder mundial na produção de bicicletas, fechou
suas fábricas nos EUA e mudou sua produção para um “parceiro” fabril em terras
chinesas. A continuação dessa história todo mundo conhece, a Schwinn nunca mais
foi líder de mercado, entrando em colapso financeiro, e a primária Giant
absorveu conhecimento e tornou-se o que é hoje.
Valentino também é claro ao afirmar que pesquisa e
desenvolvimento não podem ficar longe do chão da fábrica e do dia a dia da
produção. Não dá para ter as duas coisas em uma sala na Itália e sua produção
distante alguns milhares de quilômetros. Mas isso influencia diretamente seu
preço e é aí que temos o dilema, parafraseando muitos: “A questão é saber: o
mundo está disposto a pagar por isso?”. Acho que Ferrari, Maserati,
Lamborghini, Ducati, MV Agusta, Moto Guzzi, Ferragamo, Zegna, Gucci e outras
marcas que conservam o “Made in Italy” vão nos ajudar também a encontrar essa
resposta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário