3 de março de 2012

Alguns almejam qualidade, Campagnolo é um destes...


Em recente evento na Sicília, com charme e estilo italiano, a Campagnolo apresentou suas mais recentes armas para o disputado mercado de grupos eletrônicos, lançando o sistema EPS (Eletronic Power Shift) nas versões Record e Super Record.

A japonesa Shimano, quando anunciou seu Di2 no passado, ditou um patamar de excelência devido à precisão do seu grupo, que deve ser definido simplesmente com o adjetivo de “perfeito”.

Mas para entender em que tipo de posicionamento se encontra a italiana Campagnolo, devemos voltar para os anos 70, quando o futuro da empresa foi definido pelas mãos do seu fundador Tullio Campagnolo. Como exemplo, certa vez ele foi convidado pelo consultor americano Jay Townley, que trabalhava para a Schwinn, para produzir componentes focados no mercado de massas. Tullio pegou alguns dos protótipos nas mãos, franziu a testa e disse: “Feio, muito, muito feio!”, e nunca produziu nada com este foco.

Talvez ele não tenha imaginado, mas exatamente naquele momento el
e definia a base de uma das marcas mais adoradas e com capacidade de fidelização do mercado de ciclismo. Ao mostrar que a Campagnolo nunca quis o mercado popular, gerou essa “aura” sobre ela. A recusa em comprometer a qualidade e a beleza mudou a Campagnolo de uma simples empresa em busca de lucro para uma causa, que alguns chamam até de culto ao antigo símbolo do velho mundo artesanal, formado em bases sólidas de conhecimento, sempre sobre as asas da família na cidade de Vicenza, ao norte da Itália, em uma fábrica formada por artesãos.

Hoje a diferença entre as antigas competidoras não apresenta mais os níveis equivalentes do passado: a Shimano faturou US$ 2,1 bilhões no ano passado e a Campagnolo, US$ 150 milhões, algo similar como Toyota versus Ferrari. Quando analisamos os títulos no circuito profissional de ciclismo europeu, a similaridade com a supremacia dos pequenos Davis contra os gigantes Golias também busca equiparação no mundo dos automóveis ou da F-1 (vide o número de vitórias da Ferrari contra outras marcas), entre os anos de 1968 e 1998, ou seja, em 30 anos a Campagnolo ganhou 27 Tour de France e 26 Giro d’Italia com nomes como Eddy Merckx, Bernard Hinault, Miguel Indurain e Marco Pantani, sem citar os óbvios Gino Bartali e Fausto Coppi, décadas antes.

Claramente ela não mostra interesse em repassar sua tecnologia para parceiros orientais, devido ao problema exemplificado por Valentino Campagnolo (filho de Tullio e atual CEO) e vivido pela Schwinn com uma então desconhecida fábrica de bicicletas chinesa chamada Manufacturing Giant. Na época, a Schwinn, líder mundial na produção de bicicletas, fechou suas fábricas nos EUA e mudou sua produção para um “parceiro” fabril em terras chinesas. A continuação dessa história todo mundo conhece, a Schwinn nunca mais foi líder de mercado, entrando em colapso financeiro, e a primária Giant absorveu conhecimento e tornou-se o que é hoje.

Valentino também é claro ao afirmar que pesquisa e desenvolvimento não podem ficar longe do chão da fábrica e do dia a dia da produção. Não dá para ter as duas coisas em uma sala na Itália e sua produção distante alguns milhares de quilômetros. Mas isso influencia diretamente seu preço e é aí que temos o dilema, parafraseando muitos: “A questão é saber: o mundo está disposto a pagar por isso?”. Acho que Ferrari, Maserati, Lamborghini, Ducati, MV Agusta, Moto Guzzi, Ferragamo, Zegna, Gucci e outras marcas que conservam o “Made in Italy” vão nos ajudar também a encontrar essa resposta.

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