8 de outubro de 2014

Ciclismo, um esporte único. Um esporte mágico. Um esporte envolvente e apaixonante.

adaptado por Paulo Octavio Tassinari Caixeta
          Se o ciclismo fosse só sofrimento, seríamos todos apenas um bando de masoquistas. Mas a verdade é que, mesmo num esforço gigantesco, tudo se torna extremamente prazeroso e claro. Alguns chamam isso de La volupté (voluptuosidade em francês) e pode ser descrito como a sensação de integração entre o ciclista, a bicicleta, a música que o ciclista ouve, o ato de pedalar e o ambiente, o que resulta numa sensação prazerosa difícil de descrever.
          Sobre a bicicleta, totalmente concentrada no presente momento, com a respiração ritmada e o corpo físico trabalhando intensamente, a mente pode simplesmente parar de funcionar no turbilhão em que normalmente funciona e aquietar-se, abrindo espaço para o desabrochar de algo mais profundo. Quando chegamos nesse estado, tudo é feito da melhor maneira possível, com a intuição mais aguçada.
          Talvez o maior mal moderno seja a falta de autoconhecimento. Poucos vão fundo na exploração do que têm em seu interior. Mal conhecemos nossos corpos, nos confundimos com nossas emoções e pensamentos e achamos que somos nossos cargos, nossas carreiras, nossas famílias e nossos papéis na sociedade. Vivemos com a cabeça para lá e para cá, sem vivenciar o aqui e o agora. E vamos atravessando a vida sem observar melhor o que está oculto.
          Quem já tem uns anos de pedal e já já consegue "sofrer feliz" na bicicleta sabe o que estou falando. Há apenas você, a bicicleta e a estrada, e essa liberdade proporciona um profundo relaxamento mental. Você entende melhor o seu corpo e as emoções e pensamentos que surgem. E chega ao final de um pedal transformado.
          No caminho, você verá montanhas, florestas e rios. Enfrentará chuva, sol, frio e calor. Sentirá a adrenalina de quase cair e se recuperar e o alívio e orgulho de chegar ao topo de um colosso de rocha.
          Criará laços inquebráveis com seus companheiros de sofrimento e alegria. Acordará em horários absurdos para pedalar e poder chegar a tempo ao trabalho, mas depois terá o sono dos justos. Perceberá seu corpo se transformando, ficando mais forte e leve. Talvez desenvolva uma obsessão por ficar mais leve, para não ter que carregar peso montanha acima. Entenderá na pele que o vento pode ser meu melhor amigo ou pior inimigo. Discutirá estratégias de corrida como se fosse autoridade no assunto. E contará quilômetros e quilômetros em que você realmente viu o mundo à sua volta. A experiência vivida justifica esse texto. É exatamente isso que eu sinto ao pedalar. E é isso que muitos deveriam entender ao se perguntarem por que gastamos horas e horas montados em uma bicicleta. Experimente esse esporte.