8 de junho de 2012

E agora? O que dizer? Leia e tire sua conclusão...

por Paulo Octávio Tassinari C.

Prezados leitores, tirem suas conclusões sobre o pensamento de um colunista da revista Época. Ele estava em uma ciclovia (lugar exclusivo para ciclistas), foi acertado por um ciclista e depois publicou uma matéria expondo o que achou com argumentos pesados que devem ser julgados por você, leitor.
_________________________________________________________________
Texto original de Luís Antônio Giron


Sempre gostei de bicicleta, passei minha infância e adolescência em cima de uma, percorrendo longas distâncias e me arriscando, tentando não arriscar a vida dos outros. Mas agora, em plena obsolescência, tenho a impressão de que bandos de usurpadores roubaram-me o prazer de passear sobre duas rodas. Pior, e não é impressão, esses bárbaros que se apresentam como militantes não apenas impedem qualquer um de ser ciclista, como ameaçam quem tenta ser. Se isso ocorresse só no mundo concreto, já seria horrível. Mas eles vão muito além, e atacam seus alvos pelas redes sociais, blogs, fóruns de discussão e sites. Eles pedalam por todos os mundos possíveis. Os cicloativistas – os quais prefiro chamar de ciclochatos ou velobestas – tornaram-se uma ameaça à segurança e à dignidade do cidadão.
São muitos os exemplos da situação extrema em que as pessoas estão metidas por causa das bicicletas. Vou começar pelo mundo propriamente dito, aquele feito de terra, pedra, osso e sangue. No domingo, eu caminhava distraidamente pelo parque Villa-Lobos em São Paulo quando fui atropelado por um ciclista em alta velocidade. Felizmente não me machuquei. Foi apanas um tombo. O problema não foi o encontrão, e sim o ciclista. O sujeito alto, esbelto, de collant amarelo-limão, óculos de surfista e capacete – apetrechos que o faziam lembrar um alienígena recém-descido do futuro – esboçou uma cara de poucos amigos. Ao parar seu veículo, não me ajudou. Prevendo minha natural reação, ele preferiu chamar os colegas para vir em defesa dele. Uma dezena de ETs sobre rodas de ambos os sexos apeou das respectivas bicicletas em atitude de desafio. “Você sabia que agora temos o direito de multar o senhor?”, disse aquele que parecia ser o líder da matilha – que, tão logo pulou do selim, diminuiu de tamanho e pareceu mais velho e mais agressivo. “Você quase matou o nosso amigo aqui.” Eu, ainda sentado, caí para trás para dar uma gargalhada. “Era só o que faltava”, berrei. “Vocês me derrubam e eu ainda pago multa?” O sujeito que me atropelou sorriu com superioridade e se apresentou como “cicloativista, blogueiro e tuiteiro”, além de garoto-propaganda de uma marca de bike. Enquanto isso, outros cicloativista se juntavam à minha volta, como se formassem um tribunal inquisitorial. Assim falou o líder: “O prefeito nos conferiu a autoridade de penalizar monetariamente aqueles que ameaçam a mobilidade urbana. Você feriu a lei.” Gaguejei: “Eu não feri. Eu fui ferido! Ou quase...” A pequena multidão me vaiou e, sem pena de me ver estatelado no chão, saiu em alta velocidade como se nada tivesse acontecido. Com isso, quis se mostrar magnânima, porque não me autuou em flagrante.
Não vou mentir que eu estava com a razão. Na realidade, eu transitava sem saber em local exclusivo de bicicletas. Outro fator incriminatório é que eu andava alegremente ao mesmo tempo que enviava um torpedo pelo smartphone (o mesmo que havia sofrido bullying tecnológico na semana anterior, lembram?). Então, quando fui colhido pelo ciclista, encontrava-me a um só tempo em dois mundos: no conectado e no real. O pensamento voava online, mas o corpo desabava offline. O monitor do meu pobre celular sofreu alguns arranhões leves – cicatrizes que me fizeram naquele instante renovar os votos de fidelidade; não vou trocá-lo por outro smart qualquer do mercado.
Depois do acidente, eu já não sabia em que universo andava. Onde eu estava com a cabeça quando, depois de tudo, aluguei uma bicicleta na entrada do parque? Foi só tentar correr pela pista exclusiva da avenida para ser outra vez abalroado por um novo e ainda mais aguerrido bando de velocistas uniformizados. Enquanto eu olhava perplexo para os agressores, a multidão que se acotovelava sobre duas rodas passava como se nada tivesse acontecido. Nem discuti. Concluí que nunca mais seria a mesma coisa andar de bicicleta. A partir de então, ou eu faria parte de uma tribo e militaria por ela, ou estaria fora de tudo. Claro, estou fora.
Essa triste condição se prolonga e ganha dramaticidade pelo universo inextenso da internet. Os ciclochatos invadem impiedosamente a vida alheia: fazem a pregação em programa de rádio e televisão, enviam spam às caixas de correio eletrônico, espalham mensagens nos fóruns, pelo Twitter e pelos serviços de SMS, postam fotos artísticas no Instagram e no Flickr e anexam qualquer usuário mais distraído aos grupos ciclomaníacos do Facebook. De repente, sem querer, lá está você agregado ao mundo dos ativistas de dois pedais e um neurônio. Para se livrar deles, seria preciso retirar o nome de todos esses serviços e sair do GPS. Impossível. Eles vão pegar você em alguma esquina virtual.
Por alguns minutos, vamos nos sentar no meio-fio e, enquanto a turba dos cicloativista corre à nossa frente, tentar refletir sobre o que ela deseja e obtém, e o que de fato provoca. Os ciclistas militantes anseiam por segurança na cidade com maior número de veículos da América do Sul. Afinal, só em 2011, morreram atropelados 49 ciclistas em São Paulo. Eles também lutam pela garantia do uso de pistas exclusivas para ciclistas nas ruas e avenidas. Por fim, reivindicam e conseguiram o direito de multar motoristas que ameacem a sua segurança – e quem dera os pedestres o conseguissem algum dia. Eles se cercam, assim, de um poder inaudito. Podem multar e levar à prisão qualquer motorista, quando não pedestre, como aconteceu comigo.
Mas aquilo que parece uma coleção de atitudes de cidadania se transformou em aberração. Em primeiro lugar, os ciclochatos não podem ser denominados ciclistas comuns. Isso porque formam torcidas organizadas que, sempre em bandos, zombam dos motoristas e atravessam na frente dos ônibus para desafiar as leis do trânsito e da física. Também trafegam pelas calçadas, ameaçando os pedestres e os ciclistas amadores. Da mesma forma, os velobestas se acham no direito de divulgar suas ideias pela internet. Agora mesmo, na sua caixa de e-mails, você pode encontrar uma daquelas mensagens de “cidadania” e “mobilidade”.
A bem da verdade, a horda cicloativista parece menos uma passeata por direitos civis que um exército de kamikazes urbanos, prontos a se sacrificar em nome de uma causa nada clara. Irresponsáveis, ameaçadores e impotentes, os ciclistas panfletários são a excreção máxima das flash mobs. Unem-se para criar factoides insanos, que terminam como começaram, do nada para nada. Eles já assinaram o atestado de óbito do movimento pela internet, pois ninguém mais suporta receber nem ler o que eles têm a dizer, ou acham que têm a postar, tuitar, blogar e o diabo a quatro. Tudo o que pregam é tão irritante que cai no dogmatismo, na inconsistência e, mais grave, no mercenarismo – pois muitos deles são patrocinados por empresas. Só falta eles se arrebentarem nas ruas de verdade. Não vou sentir falta desses fanfarrões em pele de paladinos da cidadania. Sem os ciclobestas por perto, talvez o cidadão comum possa voltar a passear com tranquilidade. Seriam centenas de veículos perigosos a menos circulando pelas grandes cidades.
____________________________________________________________


Um comentário:

  1. Prezado Giron, ciclovias são para ciclistas. Você estava no lugar errado, quase derruba um ciclista e ainda quer posar de mocinho, rapaiz? O que você queria? Que os ciclistas chegassem sorrindo até você e lhe pedissem desculpas? Preste atenção, porque esses ETs, ou velobestas, também contribuem para reduzir o tráfego infernal nas grandes capitais, independentes deles serem amadores ou profissionais. Você estava errado. Não se caminha em ciclovia, ainda mais mexendo no seu "smartphone". Ahhh tem dó! Aposto que o que te deixou mais nervoso nessa história toda foi a reação arrogante dos ciclistas (mas eles têm razão). Se você tivesse sido bem tratado, não teria nos criticado assim.
    Me desculpe, mas o nome disso é sonceira! Sorte sua de você não estar em uma rua com esse celular porque senão nem feito a redação você teria, já que estaria numa UTI até hoje depois de ter sido atropelado por um coletivo e seu "smartphone" ter virado um regaço!
    Se liga, abra sua mente...

    ResponderExcluir