Publicado originalmente pela Revista Super Treino
Adaptado por Paulo Octávio Caixeta
Qual a função do exercício aeróbio na
queima da gordura?
As sobrecargas impostas sobre o sistema
cardiovascular em um treino aeróbio são fundamentais para aumentar a capacidade
cardiorrespiratória e o gasto de calorias. Consequentemente, há melhora na
saúde cardiovascular. Além disso, as adaptações proporcionadas em nível
metabólico potencializam a oxidação da gordura, tanto durante a atividade,
quanto no período pós-atividade. O exercício aeróbio utiliza os lipídeos
(gorduras) como fonte de produção de energia, mas também usa carboidratos. A
intensidade do exercício determina qual substrato é utilizado em maior
proporção como fonte energética. Quanto menor a intensidade, maior a
proporção de utilização das gorduras. Por outro lado, quanto maior a
intensidade do exercício, maior a proporção de utilização dos carboidratos. Em outras palavras, tanto em baixa quanto em média/alta intensidade a quantidade de gordura que nosso corpo irá consumir será a mesma, haverá aumento apenas na quantidade de carboidrato requerido em cada caso. Veja o exemplo do quadro:
*FC quer dizer frequência cardíaca

Agora
vamos analisar as informações do quadro. No exercício aeróbio de baixa
intensidade (50%) houve uma porcentagem de utilização de gordura igual à de
carboidrato (50%), mas o gasto calórico total foi de 220kcal em 30 minutos. Já
no exercício de alta intensidade (75%) a porcentagem de gordura utilizada em
relação ao carboidrato diminui para 33% (contra os 50% anterior), mas note que
o gasto calórico total foi de 332kcal nos mesmos 30 minutos e a quantidade de
gordura utilizada foi igual à do exercício de baixa intensidade. Ocorre que, nos treinos de alta
intensidade, sendo o carboidrato a principal fonte de energia, o organismo
consome oxigênio EXTRA para a atividade. Ao término do exercício, ou seja, no
repouso, há um aumento do metabolismo para que o organismo possa restabelecer
os níveis de oxigênio gastos no exercício, num período com duração de 24 a 48
horas. Nos exercícios de intensidade leve a
moderada, a gordura é utilizada em maior percentual devido à grande presença de
oxigênio. Esta abundância de oxigênio que o corpo consegue utilizar nesta faixa
de intensidade faz com que o aumento do metabolismo em repouso seja de menor
magnitude, perdurando por apenas 12 a 24 horas. Além disso, as adaptações
cardiovasculares e metabólicas relativas ao exercício de alta intensidade são
bem maiores que do exercício de baixa intensidade. O aumento da capacidade
cardiovascular, bem como as adaptações com relação ao aumento do número de
densidade das mitocôndrias, aumento no número de enzimas oxidativas e aumento
da capacidade de transporte e difusão do oxigênio (VO2 Máx) fazem com que o
indivíduo treinado nestas condições tenha cada vez mais a utilização da gordura
favorecida tanto durante a atividade, quanto no repouso.
#AS INTENSIDADES#
Para muitas pessoas, manter-se no
exercício durante 20 ou 30 minutos é dureza, ainda mais em níveis moderados a
intenso. Além de desgastante, o exercício pode tornar-se desmotivante. Tanto
fatores metabólicos, quanto neuromusculares e psicológicos proporcionam
limitações nos treinamentos de caráter contínuo. Desta forma, os exercícios
intervalados – alternando alta, moderada e baixa intensidade – tornam sua
prática mais prazerosa, com sensação de um treino mais curto, e proporcionam os
mesmos benefícios que o treino contínuo. E como forma de determinar as
intensidades dos exercícios e saber se os estímulos estão corretos para trazer
as adaptações pretendidas, um método muito simples é a aferição da frequência
cardíaca (FC). Apesar de não ser a mais conveniente para determinar tais
intensidades, porém com boa correlação, utilize a mesma fórmula dos
fisiologistas do exercício, que é subtrair sua idade do valor 220 para obter os
valores de sua Frequência Cardíaca Máxima. Desta forma, temos a seguinte
equação: FC Máx = 220 – idade.Com esse cálculo teremos uma estimativa
dos batimentos máximos que podemos atingir durante o exercício. No entanto, por
segurança, principalmente de indivíduos não atletas, recomenda-se trabalhar com
uma estimativa submáxima, que seria 90% da FC Máx, conhecida como FC SMáx. Por
exemplo, para uma pessoa de 30 anos teríamos a seguinte situação: FC Máx= 220 –
30, ou seja, a FC Máx seria 190bpm. Para chegar à FC Submáxima faça a conta de
190 x 0,9, que dá FC SMáx= 171bpm. O controle da frequência cardíaca pode ser
feito utilizando um frequencímetro ou através de modo manual. Entretanto, como nem todos os indivíduos
tem facilidade em aferir a FC durante o exercício, devido ao aumento dos
batimentos, outra forma de controle pode ser utilizada e é conhecida como
Tabela de Percepção Subjetiva de Esforço de Borg. Esta tabela possui uma alta
correlação da frequência cardíaca estimada para a realização do exercício e o
grau de dificuldade utilizado. Confira a relação entre os dois métodos:

A
melhor maneira de conhecer o seu estado atual e sua evolução com o esforço que
será feito na academia é pela avaliação física. É uma ótima ferramenta para
mensurar o seu estado atual e acompanhar o seu progresso na perda de peso – ou
melhor, perda de gordura – e o aumento e/ou manutenção da massa muscular. Uma
boa dica, em nossa opinião, é fazer fotos semanais do seu corpo para, desta
forma, visualizar melhor o caminho que está sendo trilhado e os resultados alcançados.
Isso irá gerar motivação para que você se mantenha na dieta, semana após
semana.
Se você já está com os dados da avaliação em mãos, informe seu corpo que é hora
de suar a camisa.
#FORMAS DE AFERIR (MEDIR) A FC#
Geralmente, as duas maneiras mais
utilizadas para aferição manual da FC é posicionando-se as pontas dos dedos
sobre a artéria radial (no punho) e artéria carótida (no pescoço). Os dedos
devem tocar a artéria com pequena pressão para não influenciar a passagem
sanguínea no local.
Antes do exercício: conte o número de vezes que o coração bate durante 30
segundos e multiplique por 2.
Durante ou logo após o exercício: conte o
número de vezes que o coração bate durante 6 segundos e multiplique por 10.
#LIMIAR ANAERÓBIO#
É o ponto no qual a predominância de fornecimento
de energia passa do aeróbio para o anaeróbio, ou seja, da abundância de
oxigênio para sua ausência. Se existe pouco oxigênio devido à intensidade do
exercício, a energia precisa vir da glicose, uma vez que a gordura não pode ser
metabolizada sem oxigênio.
ENTENDA A TABELA DE BORG
A Tabela de Borg é utilizada para
determinar a percepção subjetiva de esforço em testes ergométricos e treinos
aeróbios. A avaliação da intensidade é feita por meio da alteração da sensação
respiratória e neuromusculares de cansaço e fadiga.
No início, os indivíduos sentem certa
dificuldade em correlacionar a sensação do esforço com a numeração da tabela,
mas a adaptação é relativamente rápida quando auxiliados por um profissional.
Percebe-se na tabela que alguns números possuem
uma classificação descrita, como o limiar aneróbio (representado pelo número 13
na tabela), no qual o exercício deixa de ter uma utilização maior da via
aeróbia. Os números sem descrição representam uma fase transitória dos níveis
de esforço, apresentando sensações tanto do nível abaixo, quanto do nível
acima, de forma inconsistente.
O nível 6 representa a sensação do
indivíduo sem atividades, por exemplo, sentado e assistindo televisão.
Nos níveis 7 e 8, a frequência cardíaca
começa a se elevar e a pessoa apresenta a sensação de um maior trabalho
cardiovascular e neuromuscular para a realização de uma atividade com o mínimo
esforço.
Nos níveis 9 e 10, é perceptível a
necessidade de uma maior respiração e um aumento da frequência cardíaca com
início da sudorese. Geralmente neste estágio o indivíduo ainda consegue manter
uma conversa sem se cansar demasiadamente.
Nos níveis 11 e 12, há uma sensação de
contrações musculares um pouco mais intensas, ciclos respiratórios
(inspiração/expiração) mais curtos, a conversa torna-se um pouco desconfortável
devido à necessidade do corpo em eliminar o gás carbônico produzido pelo
aumento da frequência respiratória, mas ainda com eficiência.
Nos níveis 13 e 14, com maior esforço, a
conversa torna-se um fator bem desconfortável devido ao organismo ter uma certa
dificuldade em captar mais oxigênio. Aqui já é necessário manter uma boa
concentração na respiração. Geralmente, indivíduos sedentários começam a sentir
uma pequena fadiga neuromuscular devido à falta de capilares na musculatura que
permitem levar maior quantidade de oxigênio aos músculos que estão sendo
recrutados.
Nos níveis 15 e 16, a frequência
respiratória é elevada. Nota-se uma hiperventilação (respiração forçada) e a
fala é muito dificultada durante a realização do exercício. Geralmente,
indivíduos sedentários interrompem o exercício pela fadiga neuromuscular,
sensação de queimação e cãibra neste estágio.
Nos níveis 17 e 18, já próximo à fadiga,
a sensação é de extremo cansaço com sensação de hiperventilação extrema, grande
sudorese e dificuldade de controle motor dos movimentos (como realizar as 3
últimas repetições numa série de fadiga).
Níveis 19 e 20: instalação da fadiga
total impedindo o indivíduo de prosseguir com a atividade, tendo a necessidade
de parar ou reduzir a intensidade do exercício para que possam ser
restabelecidos todos os sistemas próximos da zona 10/11, na qual o mesmo consegue
eliminar todos os metabólitos produzidos pelo exercício, estabilizar a
frequência respiratória e oxigenar a musculatura de forma eficaz.
PROGRAMA DE TREINO
Apresentamos a seguir quatro treinos para
aumentar o gasto calórico e a queima de gordura. Serão apenas 3 dias na semana,
com duração de 20 minutos.
Especialmente para quem está no início, é ideal que em cada dia
da semana se utilize diferentes equipamentos (esteira, bike, elíptico, por
exemplo) para alterar a exigência de impacto nas articulações.
TREINAMENTO 1 – BAIXO IMPACTO – INICIANTE – 25
MINUTOS
O objetivo é propiciar um aumento do
condicionamento aeróbio sem estressar as articulações e o tecido conectivo. É
um programa excelente para aqueles que não estão acostumados aos exercícios
aeróbios, facilitando sua adesão à modalidade.
Assim, a bicicleta ergométrica horizontal
é uma boa indicação, já que seu encosto para as costas facilita a manutenção da
postura durante o exercício. O uso do elíptico proporciona um bom trabalho de
membros superiores e inferiores, e um bom trabalho cardiovascular.
Comece na bicicleta. Após o aquecimento
de 5 minutos, aumente gradualmente o ritmo, utilizando este tempo para elevar a
FC até a zona alvo de treinamento. Mantenha este ritmo e depois de 5 minutos
mude para o elíptico. Lentamente reduza a intensidade para reduzir a FC.
*Sabemos
que em alguns horários a troca de equipamento não é possível devido ao número
de pessoas na academia. Se for o caso, permaneça os 25 minutos no
equipamento de sua preferência.
TREINAMENTO 2 – QUEIMA DE GORDURA –
INTERMEDIÁRIO – 40 MINUTOS
Comece o exercício gradualmente até
elevar a FC. Em seguida, inicie a alternância de períodos mais intensos e menos
intensos. Se necessário, aumente o intervalo de recuperação ou estenda o
período de esforço. Adapte progressivamente o exercício a sua condição física.
TREINAMENTO 3 – ADAPTAÇÕES METABÓLICAS –
INTERMEDIÁRIO – 40 MIN.
O objetivo é trabalhar com intensidades
mais elevadas, um pouco acima do limiar anaeróbio, nos períodos de esforço e um
pouco abaixo do limiar anaeróbio nos períodos de descanso. O treino terá maior
ritmo de velocidade sem fadiga e queda do rendimento.
TREINAMENTO 4 – QUEIMAR GORDURA – AVANÇADO –
35 MIN.
Este programa é para indivíduos que estão
acostumados a treino aeróbio de alta intensidade. Procure não realizá-lo antes
do treino da musculação. É um programa intenso e, ao mesmo tempo, de
considerável volume, provocando bastante cansaço.
BONS TREINOS!